O porteiro surgiu do nada outro dia. Pensei até que estava na casa errada, no prédio errado, pegando o elevador de outras pessoas. Mas não, era comigo mesmo que ele queria falar.
Fiquei meio assustado, afinal um porteiro nem sempre aparece vestindo branco e com um pedaço de erva na mão (nem toda erva é maconha…). Veio abanando o pedaço de verde pra cima de mim, como aqueles dançarinos de ballet clássico que jogam os braços pro alto e esperam a gravidade os puxar para baixo.
Parou e disse a mim:
- Nakara Oiev?
(essa é meio que a língua lá do pessoal do prédio, é estranha, mas a gente se entende…)
Respondi que nada sabia. A não ser pelo índio vizinho que se põe a dançar em frente à minha porta durante as noites de lua cheia. Acho que deve algum pajé ou coisa do tipo.
O porteiro ficou me olhando, como se tentasse saber mais ou reconhecer algo dentro de mim. Não piscava, não falava, apenas me olhava. E aos poucos, foi como se ele invadisse algo aqui dentro, vasculhasse minha alma atrás de alguma coisa errada. Senti-me nu de espírito.
Num gesto clínico estendeu a erva junto ao meu peito, esfregando-a com força. E antes mesmo de algum movimento meu, disse para comer a bendita erva.
E como lá no prédio ninguém contradiz o porteiro, eu comi…
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